Matéria dos Sonhos
Ano: 2025
“O que você vê quando olha para mim?
Não sou uma cópia, tampouco uma falsificação. Apenas visto um disfarce.
No dedo de alguém, sou desejo. No olhar do outro, sou ironia. Um me vê como joia, outro como ilusão. Há quem me chame de raro. Há quem ria baixinho e me chame de truque.
A mão que me forjou sabia o que fazia. Sabia que a realidade é apenas um acordo silencioso entre os olhos e a mente. Que o valor das coisas não está em sua matéria, mas no significado que lhes emprestamos.
No final, a prata e o diamante compartilham o mesmo destino: ser matéria. Mas a matéria dos sonhos não se dissolve. Ela persiste enquanto houver quem acredite.
E, enquanto acreditam, eu brilho.”
— Anel Matéria dos Sonhos.

Labirinto de Coisas Leves
Ano: 2025
“Do que fomos feitos antes do nome,
Do que resta depois da utilidade.”
— Lo.

Olho
Ano: 2025
“Há olhos que capturam o mundo com nitidez cirúrgica.
Os meus, não.
Os meus olhos vagueiam.
Errantes, deslizam pelas coisas sem pressa,
não buscam compreender de imediato
preferem sentir, absorver, deixar que o tempo revele o que puder.
Não enxergam por definição,
mas por deriva.
Se perdem
e, nesse perder, encontram.
Esses olhos moldam meus gestos.
É com eles que crio, que traço, que habito o mundo.
Esta peça não é uma visão.
É um vestígio de olhar.”
– Lo

Névoa
Ano: 2025
“Não procurei a névoa.
Ela crescia em torno de mim.
Pensei que era o mundo sumindo.
Mas não era.
Era eu.
Na borda de mim.”
— Lo.

O Inventor de Sombras
Ano: 2025
“Inclinei-me à luz.
Não para ser vista,
mas para ser tocada por ela.
O sol me deu forma.
A sombra, nome.”
— Lo.

Bengala
Ano: 2024
“São objetos que sustentam.
Guiam, nutrem,
símbolos do início e do fim.
Espelham-se um no outro,
como se o tempo dobrasse sobre si mesmo.
Seguram a matéria do mundo,
tocam a boca e o chão,
cúmplices de gestos cotidianos,
fiéis às mãos.
E assim, entre a colher e a bengala,
a vida se desenha.”
— Lo.

Fissura
Ano: 2024
“Fissura,
uma abertura pela qual a vida se derrama.”
— Lo.

Lonjuras
Ano: 2024
“Sinto-me a deslizar pelo tempo,
Estendendo-me em direção ao desconhecido.
Busco aquela que se esconde
Nos recantos mais secretos do meu ser.
Sou, para mim mesma,
A tensão do momento presente,
Em direção aos caminhos incertos
Que se desdobram diante de mim.”
— Lo.

Avante
Ano: 2024
“Avante, a fim de reajustar meu espírito a cada passo.”
— Lo.

Caos no Jardim
Ano: 2023
“Há imagens que se impõem antes mesmo de serem compreendidas. Formas que perturbam. Sons que ressoam. Ideias que se infiltram sem pedir permissão. O mundo se ergue — estranho e familiar. A lógica cede, a ficção se dilui na realidade. E, no entanto, algo pulsa. Não recuamos: narramos, desenhamos, forjamos. Nomeamos o indizível, moldamos o vazio. Criar é habitar a desordem. Se o caos é a origem, a criação é nossa resposta. Não porque tenhamos respostas, mas porque, ao criar, pertencemos.”
— Lo.

Alice
Ano: 2024
“Todos se colocam freqüentemente em contradição consigo mesmos (…) e tudo é absurdo, mas nada é chocante, porque todos se acostumaram a tudo (…) um mundo em que o bom, o mau, o belo, o feio, a verdade, a virtude, têm uma existência apenas local e limitada (…) eu começo a sentir a embriaguez a que essa vida agitada e tumultuosa me condena. Com tal quantidade de objetos desfilando diante de meus olhos, eu vou ficando aturdido. De todas as coisas que me atraem, nenhuma toca o meu coração, embora todas juntas perturbem meus sentimentos, de modo a fazer que eu esqueça o que sou e qual é meu lugar. (…) Eu não sei, a cada dia, o que vou amar no dia seguinte. Eu vejo apenas fantasmas que rondam meus olhos e desaparecem assim que os tento agarrar.”
(ROUSSEAU, JJ. A Nova Heloísa, 1760)
A série ‘Alice’ esteve exposta na II Bienal de Joalheria Contemporânea de Lisboa, com o tema “Jóias Políticas, Joias de Poder”, em 2024.

Cambalhotas
Ano: 2023
“Neste projeto, dou a volta ao mundo, como se desse cambalhotas. Meu corpo permanece sobre a banca de ourivesaria, enquanto minha alma alça voo livre. Manipulo os materiais que tanto adoro, sem amarras, estendendo-me nas possibilidades. Concedo-me a liberdade de ser o que sou, imersa em meu mundo microscópico.”
— Lo.

O Fazedor
Ano: 2023
“O anel O Fazedor é uma síntese do primeiro anel que fiz para mim mesma, chamado ‘Esme’. Esme tornou-se uma peça solicitada, e ao longo dos anos, por meio do fazer, de repetições e esmero, em O Fazedor, aproximei-me um pouco mais do que originalmente buscava: meu próprio desejo. Reconheço que, como humana, talvez nunca o alcance por completo, mas à medida que avanço, no ato de ‘fazer-se-fazendo’, encontro-me com outros sujeitos, igualmente desejantes, e, nesse processo, me desenvolvo.”
— Lo.

O Sonhador
Ano: 2023
“O Sonhador tem sua origem em meio a uma pesquisa de campo realizada para outro projeto em andamento na época (Fungos Invisíveis). Ao percorrer a mata, deparo-me com uma lagartixa morta, um encontro inesperado que desencadeia pensamentos sobre vida, morte e, especialmente, sobre o tempo – o cerne da minha pesquisa. Decido levá-la comigo e, ao transformá-la, mantenho vivo aquele momento. O Sonhador captura as complexidades do tempo e revela a beleza inesperada que emerge de encontros fortuitos.”
— Lo.
O broche O Sonhador foi exibido durante a Milano Jewelry Week, na Itália, em 2023.

Fungos Invisíveis
Ano: 2023
“Fungos Invisíveis surgiu como resposta a um projeto da Algures, Escola de Joalheria Contemporânea Brasileira, que propunha uma investigação sobre o tempo. Escolhi os fungos como corpo desse tema e me dediquei a explorar sua natureza corrosiva em um parque público próximo ao meu ateliê. No entanto, meu material de pesquisa acabou se perdendo por circunstâncias desconhecidas, provavelmente devido a um descarte acidental. Durante este processo, percebi que esse encontro ultrapassava meu entendimento, pois permeava todo o meu mundo e, ainda assim, só me era possível imaginá-lo. Provocada por esses seres, fui levada a criar os meus próprios fungos – matéria reinventada, vestígios de uma presença que nunca desaparece. Revelando que, mesmo nos recessos mais improváveis, sua presença persiste.”
— Lo.
A série Fungos Invisíveis esteve em exibição na Galeria Alice Floriano durante a exposição Processos, em 2023.

Eterno Retorno
Ano: 2023
“Acredito que meu trabalho seja um ciclo contínuo, onde tudo retorna e se renova sob novas perspectivas. Anos atrás, ao sonhar com cobras que mordiam o próprio rabo, criei minha versão ‘Ouroboros’. ‘Eterno Retorno’ é um desdobramento de ‘Ouroboros’, uma extensão do meu eu do passado que pavimentou o caminho até aqui, moldou meu presente e que se projeta no porvir. A noção do contínuo permeia todo o meu trabalho.”
— Lo.
